Não podemos dizer que a pandemia do coronavírus nos pegou no Brasil de todo desavisados. A linha do tempo da disseminação da Covid-19, do seu local de aparição inicial, em Wuhan, na China, até a chegada em nosso país, nos deu um mês ou mais de vantagem, durante o qual providências poderiam ter sido tomadas para uma sequência de fatos que era prevista. No entanto, a falta de preparação, nossa velha companheira, dançou o carnaval despreocupadamente, aguardando sem atitudes que pudessem evitar o que sobreveio a partir de março. Tal ocorrência guarda semelhança com o que há anos alertamos à nossa audiência: todos precisamos nos preparar para viver mais, seja como indivíduos, famílias, empresas ou governos. Mas nem sempre o estamos fazendo.

Em particular no tocante à preparação das cidades, o Brasil tem se destacado pela falta de zelo. Isso é o que mostra o Índice de Desenvolvimento Urbano para Longevidade (IDL), criado pelo Instituto de Longevidade Mongeral Aegon para avaliar a prontidão dos municípios para atender a uma população que tende a viver cada vez mais. Os resultados dos 498 municípios avaliados no IDL evidenciam que temos muito a fazer para responder aos desafios sociais e econômicos da longevidade. O IDL avalia diversos aspectos que uma cidade precisa atender para oferecer bem-estar a uma população longeva. E, durante a pandemia, esses pontos se mostram ainda mais essenciais. Uma cidade mais preparada para a longevidade é também uma cidade mais capaz de controlar os impactos da disseminação de uma doença como a que estamos enfrentando.


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Uma das áreas avaliadas pelo IDL é a rede de assistência médica presente nas cidades, que naturalmente é um ativo crítico neste momento. Embora o governo federal esteja desempenhando um papel preponderante na articulação da resposta à crise, sobretudo para garantir que insumos e recursos de todos os tipos cheguem às pontas, sabemos que é pela mão de estados e municípios que o serviço é prestado à população. Segundo o IDL, apenas 3,2% das cidades brasileiras possuem números adequados de leitos na rede pública e privada, enquanto o número de médicos é satisfatório em apenas 4% dos municípios.  Mesmo com esses resultados, sabemos que, sem o Sistema Único de Saúde, a extensão da tragédia anunciada certamente seria maior.

Mas não são apenas equipamentos médicos, profissionais de saúde e leitos que importam à população nesse momento. Mesmo para quem não está doente, há desafios. O isolamento social traz uma série de complicações para os indivíduos, e se manter em casa pode ser angustiante, especialmente para os mais velhos. A fim de não interromper o vínculo com esse público, o SESC no estado do Rio de Janeiro está oferecendo alternativas virtuais das atividades cotidianamente oferecidas para interação social entre os idosos. Segundo Thais Castro, coordenadora do Trabalho Social com Idosos da entidade, as unidades estão oferecendo cafés virtuais duas vezes por semana, além de manterem grupos no Whatsapp e Facebook, onde oferecem videoaulas, jogos on-line e bate-papos. O IDL avalia, dentro da área Cultura e Engajamento, a presença de unidades do SESC Brasil afora. Mas só 17,5% das cidades têm unidades do SESC.

Outro ponto crítico para o bem-estar nas cidades é o acolhimento a idosos com necessidade de assistência cotidiana, oferecido pelas Instituições de Longa Permanência para Idosos, ou ILPI’s. Durante a epidemia, a atenção às ILPI’s tem sido enorme, já que elas concentram um público de alto risco. Mais uma vez, o IDL revela pouca preparação das cidades brasileiras: apenas 7,4% das cidades têm ILPI’s. Segundo Marcos Fioravanti, do Conselho Municipal dos Direitos da Defesa da Pessoa Idosa de Niterói – uma das cidades de melhor desempenho no IDL – também é problemático o fato de que as ILPI’s não geram informações suficientes sobre as condições de saúde dos idosos residentes para que o Estado possa dar o suporte adequado. Fioravanti diz que o próprio conselho tem feito esse acompanhamento na cidade, mas é necessário que isso seja feito pela gestão pública em todo o país.

O que podemos aprender com a Covid-19 é que os espaços urbanos sempre devem estar preparados para atender e acolher seus cidadãos, seja qual for a sua idade, necessidade ou o momento que estiver passando. Os efeitos da pandemia irão se abrandar, a quarentena irá acabar, mas devemos manter a união de todos para garantir o bem-estar comum. É fundamental que a sociedade continue tendo papel ativo, mesmo após a crise, assim como estão fazendo nossos parceiros SESC-RJ e Conselho do Idoso de Niterói. Faça sua parte compartilhando se você acha que sua cidade está preparada para atender às necessidades de pessoas de todas as idades (dentro ou fora de um cenário de epidemia) em cidadeselongevidade.org.

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