Que o povo brasileiro tem um talento raro para a música, todos sabem. O nosso país é reconhecido mundo afora pela sua musicalidade e por seus grandes gênios, nos mais diferentes gêneros e estilos. Ao mesmo tempo, cada um de nós pode imaginar, mesmo sem sequer tocar chocalho, o quanto deve ser difícil a vida de quem busca viver profissionalmente de música aqui no Brasil. Diante desse pensamento, sempre fico imaginando quantos excelentes cantores e instrumentistas ficam pelo caminho, sem ter a oportunidade de conseguir mostrar seu potencial artístico ao público.

Na guerra da concorrência, as TVs brasileiras têm variado o formato dos shows de talento e promovido edições para perfis específicos de artistas em potencial. A mais recente dessas iniciativas vem da Globo, que estreia nos próximos dias uma versão do The Voice exclusiva para idosos: o The Voice +. Certamente, são comerciais os principais motivos que justificam esta iniciativa, afinal a emissora vive de fazer dinheiro com seus programas. Nem por isso, a realização do The Voice + deixa de provocar a reflexão sobre a oferta de oportunidades aos mais velhos. Pois se é difícil ser artista no Brasil, imagina depois dos 60 anos.

A invisibilidade que vai ocorrendo com as pessoas, à medida que envelhecem, é questão séria. Por isso, recentemente houve tanto debate a respeito da proposta de retirar o direito à gratuidade nos transportes públicos para o segmento entre 60 e 64 anos. O Governo do Estado de SP e a Prefeitura de SP, responsáveis pela remoção da gratuidade, argumentam que a medida acompanha recentes mudanças em políticas que endereçam idosos, como a ampliação da idade de saída compulsória do serviço público (de 70 para 75 anos) ou a criação de um grupo prioritário (os que têm mais de 80 anos), quando se trata de observar direitos de idosos.

The Voice - Gratuidade em transportes públicos.

Governo e prefeitura de SP apresentam proposta para retirar gratuidade em transportes públicos para pessoas entre 60 e 64 anos. Crédito: Joa Souza / Shutterstock.

Entre os contrários à medida, os argumentos vão desde o que diz que não se deve mexer em direitos adquiridos até o fato de que a mobilidade tem um grande impacto na saúde física e mental de idosos – as quais seriam impactadas negativamente pela remoção da gratuidade. Pesquisando sobre o tema, a mim parece que este último argumento é o mais razoável, até porque ele se soma a outro aspecto relevante da discussão, que é o fato de que o subsídio ofertado pelo Estado e pelo Município não é calculado com base no número de passageiros. Ou seja, a remoção da gratuidade não traria nenhuma economia aos cofres públicos.

 Enquanto a disputa jurídica sobre a gratuidade no transporte público para o grupo de 60 a 64 anos segue em curso, 48 artistas vão participar da edição do The Voice exclusiva para idosos, que começa a ser exibida dia 17/1. Embora esses dois acontecimentos sejam bem distintos um do outro e tenham impactos muito diferentes, eles nos deixam a semente da reflexão de que é preciso estarmos atentos constantemente a como podemos promover a participação social plena de todas as faixas etárias. Não é novidade para ninguém que o país está envelhecendo, e é e será cada vez mais de interesse de toda a sociedade que os idosos se mantenham ativos, dentro de suas condições, para ir, vir, cantar e muito mais.


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