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Até 2030, haverá no mundo mais pessoas com mais de 60 anos de idade do que crianças com menos de 10 anos. O envelhecimento da população é, em certo aspecto, um triunfo do desenvolvimento, na medida em que esse avanço tem sido possível graças a uma ação coordenada formidável em torno de problemas globais de saúde. Mas, conforme as pessoas envelhecem, sua saúde e os cuidados necessários tendem a se tornar cada vez mais complexos. Essas complicações, por sua vez, podem criar desafios para os sistemas de saúde, deixando que milhões de pessoas mais velhas ao redor do mundo enfrentem barreiras inaceitáveis.

Em setembro de 2015, líderes mundiais adotaram a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que incluiu 17 Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) para erradicar a pobreza, lutar contra a desigualdade e a injustiça e atacar a mudança climática até 2030.

O terceiro ODM é assegurar vidas saudáveis e promover o bem-estar para pessoas de todas as idades. Num contexto de rápido envelhecimento da população, o foco em todas as faixas etárias é significativo. Trata-se de uma alavanca bem-vinda para atrair a atenção de formuladores de políticas públicas para a necessidade de adaptar sistemas de saúde, de modo que eles possam atender às demandas dos cidadãos agora e no futuro.

Embutidos nesses objetivos estão duas metas para os governos:

- Alcançar uma cobertura universal de saúde, incluindo proteção contra riscos financeiros, acesso a bons serviços essenciais de cuidados em saúde e concessão de vacinas e medicamentos seguros, efetivos, de qualidade e acessíveis a todos.

- Aumentar substancialmente o financiamento em saúde e o recrutamento, o desenvolvimento, o treinamento e a retenção de trabalhadores de saúde em países em desenvolvimento, especialmente nos menos desenvolvidos e em Estados em desenvolvimento concentrados em pequenas ilhas.

“Pessoas mais velhas são, em muitos casos, forçadas a ser totalmente autossuficientes em relação a suas próprias necessidades em saúde e cuidados sociais”

Os sistemas de cuidados sociais e de saúde existentes têm respondido de forma não adequada às mudanças demográficas e às alterações de padrões de doenças. Vemos, nessas áreas, serviços completamente ausentes ou insuficientes em muitos países. Isso significa que pessoas mais velhas são, em muitos casos, forçadas a ser totalmente autossuficientes em relação a suas próprias necessidades em saúde e cuidados sociais.

O compromisso global para a implementação de uma cobertura universal de saúde marca um progresso real. Garante ainda uma bandeira para o fortalecimento dos sistemas de saúde, para que eles possam responder às necessidades de um número crescente de pessoas mais velhas.

Enquanto as pessoas envelhecem, suas necessidades tanto para os cuidados em saúde quanto para os sociais tendem a se tornar cada vez mais multifacetadas. O envelhecimento está associado ao maior risco de desenvolver mais de uma condição de saúde ao mesmo tempo e a uma necessidade maior de apoio nas tarefas diárias.

A HelpAge International, rede que trabalha com organizações que trabalham com e para idosos, vê, regularmente, pessoas mais velhas enfrentando barreiras todos os dias em questões de acesso a cuidados sociais e de saúde. Observamos acesso físico deficiente às clínicas e aos hospitais, custos proibitivos dos serviços, falta de conscientização sobre as condições de saúde relacionadas à idade, ausência de serviços de cuidados sociais e de saúde disponíveis, discriminação e falta de trabalhadores capacitados na área de saúde. É difícil superestimar a extensão do problema.

“Esses serviços não estão tão equipados para solucionar problemas de saúde crônicos e de longo prazo, que são mais comumente vividos na velhice”

Sistemas de saúde em países de baixa e média rendas têm amplamente evoluído em resposta a condições agudas e com restrição de tempo – na maioria das vezes, impulsionados pelo ônus das doenças transmissíveis. Enquanto o foco em diagnóstico, tratamento e serviços curativos tenha resultado em grandes avanços para reduzir os índices de mortalidades infantil e materna, entre outras áreas, esses serviços não estão tão equipados para solucionar problemas de saúde crônicos e de longo prazo, que são mais comumente vividos na velhice.

Uma das áreas mais importantes para lidar nos sistemas de saúde, que permita atender melhor a população mais velha, são os trabalhadores da área.

Em 2015, a Organização Mundial de Saúde estimou a existência de pouco mais de 43 milhões de profissionais de saúde ao redor do mundo. No entanto, também projetou que outros 17,4 milhões são necessários para atender às necessidades dos sistemas de saúde globalmente. (1)

Esses números não melhoraram suficientemente desde aquela época, e nós da HelpAge International testemunhamos regularmente um número insuficiente de novos profissionais ingressando no sistema para atender às demandas ou substituir as pessoas que se aposentam. Na maioria dos países de baixa e média rendas, os sistemas formais de assistência social não existem, e trabalhadores especializados em assistência social são raros.

Esses desafios significam que existe uma enorme lacuna tanto em mão de obra social quanto de saúde, resultando em uma grade dependência de cuidadores domésticos e na comunidade que são não remunerados, não treinados, não reconhecidos e não apoiados. Esses cuidadores são, muitas vezes, mulheres mais velhas. À medida que as pessoas têm menos filhos e vivem mais e que as mulheres ingressam ou reingressam no mercado de trabalho a taxas cada vez mais altas, essa dependência de cuidadores informais não remunerados irá se tornar, de forma crescente, insustentável. (2)

 “A falta de treinamento para trabalhadores de saúde sobre problemas de saúde de pessoas mais velhas é outro desafio crítico”

Além das lacunas na força de trabalho, a falta de treinamento para trabalhadores de saúde sobre problemas de saúde de pessoas mais velhas é outro desafio crítico. Na HelpAge International, observamos que, em muitos treinamentos, há falta de foco em geriatria, gerontologia e tipos de problemas de saúde enfrentados na velhice.

Uma pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde em 2002 detectou que, em 36 países, 27% das escolas médicas não conduziam nenhum treinamento específico em geriatria, das quais 19% em países de alta renda e 43% nos de economias em transição. (3) Similarmente, um estudo de 2012 revelou que, de 40 países na África, 35 não ofereciam treinamento formal em geriatria aos alunos de graduação em medicina, e 33 relataram não haver um programa de capacitação em geriatria na pós-graduação. (4)

Para enfrentar esses desafios, há quatro prioridades que os formuladores de políticas públicas devem visar, se quisermos alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio em saúde e bem-estar:

- Assegurar a inclusão de pessoas mais velhas na cobertura universal de saúde, trabalhando para atacar e eliminar as barreiras que elas enfrentam ao acessar serviços e suporte e garantindo a inclusão de serviços e apoio apropriados e direcionados, incluindo os cuidados de longa duração.

- Aumentar a competência da mão de obra em saúde em uma série de áreas: (a) realização de triagem básica para avaliar o estado geral da pessoa, incluindo visão, audição, cognição, estado nutricional e saúde bucal; (b) administrar problemas de saúde comuns a idosos, como fragilidade, osteoporose e artrite; (c) compreender depressão, demência e uso nocivo de álcool; (d) identificar negligência ou abuso.

- Construir, entre trabalhadores da área, competências gerais sobre saúde do idoso, bem como conhecimentos especializados em geriatria e maior capacidade para a prestação de serviços e suporte de assistência social.

- Desenvolver sistemas que incluam treinamento, supervisão e remuneração de prestadores de serviços sociais e cuidadores, além de oferecer apoio direcionado a familiares, amigos e vizinhos que prestam assistência, inclusive por meio de maior acesso a mecanismos apropriados de proteção social.

(1) http://www.who.int/gho/health_workforce/en/ 

(2) World Report on Ageing and Health, World Health Organization, Geneva, 2015

(3) Keller I, Makipaa A, Kalenscher T, Kalache A. Global survey on geriatrics in the medical curriculum. Geneva: World Health Organization; 2002

(4) Dotchin C L et al, 2012 Geriatric medicine: services and training in Africa Age Ageing. 2013 Jan;42(1):124-8.
Doi: https://doi.org/10.1093/ageing/afs119. Epub 2012 Sep 30  www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/23027519

Citação sugerida:

Derbyshire, Justin. 2018. “Aging and the Sustainable Development Goals — SDG3 Universal Health Coverage and Human Resources for Health.” AARP International: The Journal, vol. 11: 34-35. https://doi.org/10.26419/int.00001.011

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