A AARP é a provedora deste conteúdo.

Durante a Segunda Assembleia Mundial sobre Envelhecimento em Madri, em 2002, os participantes concordaram que um dos grandes desafios da sociedade contemporânea seria melhorar a vida de pessoas mais velhas em países em desenvolvimento, onde mora a grande maioria delas. Mas, dez anos depois, nós ainda questionamos por que elas permanecem invisíveis em nossas sociedades.

Populações da América Latina e do Caribe (ALC) têm envelhecido rapidamente, e a velocidade do envelhecimento populacional crescerá exponencialmente nos próximos anos. Essa mudança demográfica significa que, por volta de 2050, 24% da população da ALC – cerca de 200 milhões de pessoas – terá 60 anos ou mais.

Além de indicar uma maturidade demográfica, esse envelhecimento resulta de avanços sociais e progressos em cuidados de saúde. Por volta de 81% da população nascida na região viverá pelo menos até os 60 anos, enquanto 42% passarão dos 80 anos. Em 2025, haverá 15 milhões de pessoas com 80 anos ou mais. Está claro que o envelhecimento da população é um dos maiores desafios que as sociedades da ALC têm de enfrentar neste século.

“Envelhecer na ALC permanece um fardo. Apesar das recentes melhorias na situação econômica da região, há muitas diferenças entre os países, e os recursos econômicos dedicados às pessoas mais velhas permanecem muito limitados”

Como exemplo de “democratização da longevidade” da ALC, a expectativa de vida geriátrica – ou a expectativa de vida de pessoas aos 60 anos de idade – era de 19 anos, para homens, e 23 anos, para mulheres, em 2006. Um valor semelhante ao de países desenvolvidos. O aumento da longevidade, contudo, não tem sido acompanhada de melhorias comparáveis em bem-estar, saúde e qualidade de vida.

O envelhecimento na América Latina e do Caribe permanece um fardo. Apesar das recentes melhorias na situação econômica da região, há muitas diferenças entre os países, e os recursos econômicos dedicados às pessoas mais velhas permanecem muito limitados. Estudos mostram que quase 50% das pessoas mais velhas não têm meios financeiros que supram suas necessidades diárias, e um terço não tem nem aposentadoria nem trabalho remunerado. O nível educacional delas é menor que o da população em geral e elas têm altos índices de analfabetismo, especialmente em áreas rurais.

Quase 80% dos habitantes com 65 anos ou mais nos Estados Unidos declaram ter boas condições de saúde. Nos países da ALC, no entanto, menos de 50% das pessoas com 60 anos ou mais descrevem sua saúde como “boa”. Além disso, mulheres da ALC dizem que estão com a saúde pior do que a dos homens. Vários estudos mostram redução na prevalência de incapacidade nesse grupo etário nos Estados Unidos e no Canadá; mas, na América Latina e no Caribe, 20% da capacidade funcional básica dos membros do grupo têm sido afetada, necessitando cuidados de longo prazo em suas casas ou em instituições.

“Nas sociedades da ALC, membros da família, especialmente mulheres (90%), cuidam de parentes mais velhos. No entanto, a capacidade deles de fazer isso está mudando; 60% dizem que ‘é demais’ para eles, e mais de 80% indicam dificuldades financeiras em prestar cuidados”

As implicações dessas estatísticas para a saúde pública na região hoje e no futuro são muitas, mas, infelizmente, os sistemas de saúde da ALC ainda carecem de uma visão mais abrangente da saúde de pessoas mais velhas.

O conhecimento sobre as necessidades de cuidados em saúde desse grupo não é uniforme, e a maioria dos sistemas de saúde na região não tem indicadores que permitam monitoramento e análise de impacto apropriados. Cobertura, cuidados contínuos e acesso geográfico, físico, econômico e cultural aos serviços de saúde, sem discriminação, são deficientes, e aqueles que têm acesso ainda não recebem serviços adequados.

Nas sociedades da ALC, membros da família, especialmente mulheres (90%), cuidam de parentes mais velhos. No entanto, a capacidade deles de fazer isso está mudando; 60% dos cuidadores dizem que “isso é demais” para eles, e mais de 80% indicam dificuldades financeiras em prestar cuidados.

Expectativas de que famílias e outros cuidadores informais poderiam preencher essa lacuna não são realistas. Rápida transição demográfica e fatores como a transformação da família, a participação da mulher no mercado de trabalho, a migração e a urbanização estão afetando a disponibilidade de recursos domésticos para garantir os cuidados necessários a adultos mais velhos.

Em 2009, o Conselho Diretor da Organização Pan-Americana da Saúde aprovou o “Plano de Ação para a Saúde de Pessoas Mais Velhas, Incluindo Envelhecimento Ativo e Saudável”, enfatizando que a mudança exponencial em direção a uma nova situação demográfica e epidemiológica significa que os países precisam não apenas se adaptar rapidamente, mas também antecipar novos contextos. E que somente o investimento social e de saúde adequado pode produzir longevidade ativa e saudável, com benefício para todos.

Para assegurar o envelhecimento saudável e ativo, será necessário desenvolver programas sólidos de prevenção e promoção de saúde com abordagem ao longo da vida

O compromisso esboçado no plano de ação elucidou quatro áreas estratégicas principais:

1) defender a saúde de pessoas mais velhas por meio de políticas públicas;

2) aumentar a adequaçãode sistemas de saúde para enfrentar os desafios de uma população que está envelhecendo;

3) aumentar o treinamento de recursos humanos para enfrentar esse desafio;

4) desenvolver a capacidade de gerar a informação necessária para executar e avaliar ações para melhorar a saúde da população mais velha.

Melhorar as condições de saúde e reduzir a deficiência e a dependência da população mais velha requerem compromisso e responsabilidade compartilhados. Para assegurar o envelhecimento saudável e ativo, será preciso desenvolver programas sólidos de prevenção e promoção de saúde com abordagem focada no curso de vida.

Um trabalho intersetorial melhor entre os sistemas de saúde e de proteção social, usando uma abordagem de direitos humanos, será necessário para garantir melhores oportunidades de desenvolvimento, por exemplo, por meio do estabelecimento de ambientes seguros e que sejam amigáveis para pessoas de todas as idades.

Sistemas de saúde baseados na atenção primária na região devem ser desenvolvidos com abordagens comunitária e familiar melhores para prevenir a dependência, enquanto também promovem melhores caminhos para cuidar de pessoas mais velhas. Sistemas de saúde também devem prover seus trabalhadores com o treinamento que eles precisam para enfrentar as necessidades de cuidados de saúde desse grupo populacional.

Essa abordagem ao envelhecimento exigirá a eficiência, a efetividade e a qualidade de sistemas e serviços de saúde. Enfrentar esse desafio também exigirá das instituições acadêmicas e de pesquisa desempenhar um papel ativo na produção de novos conhecimentos e evidências científicas para oferecer dados para a tomada de decisão. Mecanismos e produtos de informação apropriados vão facilitar o monitoramento, a avaliação e a supervisão, assim como a adaptação de planos e estratégias.

O sucesso desse Plano de Ação vai depender da mobilização de apoio político, social e econômico necessário para a adoção de políticas públicas efetivas relacionadas à saúde e ao envelhecimento. Isso exigirá a participação ativa das partes interessadas, dos doadores, do setor privado e da sociedade civil.

As pessoas mais velhas ainda precisam ser reconhecidas como contribuintes independentes para a sociedade da ALC, mas isso pode mudar com melhoria nos esforços nas áreas de envelhecimento e saúde.

ENRIQUE VEGA é especialista em geriatria e tem atuado como conselheiro regional em Envelhecimento e Saúde na OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde)/OMS (Organização Mundial da Saúde), desde janeiro de 2006. Antes, foi diretor nacional de Cuidados para Pessoas Mais Velhas no Ministério da Saúde de Cuba; vice-diretor do Centro de Pesquisa em Longevidade, Envelhecimento e Saúde em Havana; e ex-secretário-geral do Comitê da América Latina na Associação Internacional de Gerontologia e Geriatria.

http://journal.aarpinternational.org/a/b/2015/01/vega

Copyright © 1995-2016, AARP. Todos os direitos reservados.

Compartilhe com seus amigos