Na vida, há desejos e intenções que muitas vezes ficam adormecidos à espera do momento certo para ser realizados. E, quando chega a hora, basta um cutucão do destino para despertar a ação que estava incubada. Foi assim com a professora aposentada Maria Madalena da Silva, de 70 anos. Depois de ver uma reportagem na TV, em 2014, ela resolveu construir um abrigo para idosos em Águas Lindas, município de Goiás.

Mas é preciso conhecer um pouco mais da história de Maria para saber exatamente como essa vontade se desenvolveu. O “clique” final se deu quando ela viu, no noticiário da TV Anhanguera, uma reportagem sobre internos que sofriam maus-tratos e até apanhavam em uma casa de longa permanência para pessoas de idades mais avançadas.

Na ocasião, ela estava em Pirenópolis (GO), trabalhando na construção de uma pousada para sua filha mais nova, hoje com 49 anos. Maria tem também dois filhos, um de 51 anos e outro de 50.

Abrigo de Idosos A professora aposentada Maria Madalena da Silva investiu seus bens para construir um abrigo para idosos em situação de vulnerabilidade social; crédito: Leo Rizzo

Ela nasceu em Itapirapuã, também em Goiás, mas foi em Brasília que passou boa parte da vida – mais precisamente os anos de trabalho, casamento e maternidade. Chegou à capital federal em 1964, ao se casar, e morou por lá até 1996, quando se aposentou como professora da primeira à quarta série do ensino fundamental. À época, já era viúva; o marido morreu jovem, aos 47, em 1983, devido a uma doença no coração.

Ele era fotógrafo, mas tornou-se construtor, ganhando a vida ao adquirir lotes de terra e erguer casas para vender, isso sem estudo formal para tanto. “Aprendeu tudo na prática, na base do amor mesmo”, diz Maria, que também acabaria atuando na seara das obras sem conhecimento acadêmico, pela força da vontade.


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Depois que o companheiro se foi, Maria deu continuidade à verve construtiva dele no projeto da pousada da filha, que ficou pronta em cinco anos. Decidiu também deixar Brasília: vendeu uma fazenda que era dela e do marido em Corumbá, Mato Grosso do Sul, e comprou outra em Águas Lindas (GO), onde passou a viver.

É necessário voltar mais um pouco no tempo para recapitular a índole cuidadora de Maria. Ainda em Brasília, quando seus próprios filhos já estavam na adolescência, no final dos anos 1980, ela ajudou a criar as quatro crianças do caseiro, de 3, 4, 6 e 7 anos de idade. No dia em que o pai delas resolveu levá-las com ele, Madalena sentiu um grande vazio. “Para preenchê-lo, fui trabalhar como voluntária em um lar para idosos no Núcleo Bandeirante, no Distrito Federal”, ela conta.

Abrigo de Idosos A aposentada investe na construção de 16 chalés, que poderiam comportar até 60 pessoas; crédito: Leo Rizzo

A missão durou dois anos e meio e foi interrompida por falta de tempo, uma vez que Maria Madalena já estava imersa no terreno da construção civil, nas obras da pousada em Pirenópolis. Ali mesmo, tempos depois, em 2014, um noticiário na televisão mudaria os rumos da trajetória da ex-professora.

Seu grande projeto pós-aposentadoria, o abrigo para idosos Lar Casa do Caminho, só pôde ganhar corpo com a venda de dois lotes de terra que possuía em Taguatinga e Ceilândia, no Distrito Federal, os quais lhe renderam os R$ 2 milhões investidos nessa missão. Ele foi erguido no mesmo terreno da fazenda em que mora.

Até o último dia

O abrigo para idosos é composto de 16 chalés, com 56 m², dois quartos e um banheiro cada um. Desse total, 15 serão destinados aos idosos e 1 aos cuidadores. A princípio, serão duas pessoas por quarto – 60 ao todo –, mas Maria pretende, no futuro, colocar três em cada dormitório, com a utilização de camas do tipo box. Serão, então, 90 moradores, que ela pretende recrutar em serviços de assistência social. “Não quero que sejam pessoas que tenham condições de pagar por um cuidador ou um por lugar para ficar”, explica a proprietária.

Abrigo de Idosos Para manter a estrutura, Maria Madalena da Silva deverá se valer da aposentadoria e da pensão deixada pelo marido; crédito: Leo Rizzo

Ela pretende estar à frente da administração do local. “Vou cuidar dos idosos até o último dia da minha vida”, afirma. Mas não sabe ainda quando essa tarefa começa: a instituição não está pronta, porque o dinheiro acabou. “Preciso ainda fazer uma lavanderia e uma pista ao redor do lar, além de adquirir todo o mobiliário”, diz. Para tanto, tem recebido algumas doações e também conta com outras cartas na manga, “negócios em andamento” que ela prefere não dizer quais são. Para manter o abrigo para idosos, deverá se valer da aposentadoria e da pensão que o marido lhe deixou.

Com os recursos financeiros para o término da obra em mãos, Maria Madalena calcula que coloca “tudo funcionando” em um mês ou dois. Quem quiser colaborar com o projeto pode entrar em contato diretamente com ela pelos celulares (61) 98145-3379 ou (61) 99668-2461.

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