Taxonomia é o processo que descreve a diversidade dos seres vivos. No ramo da Biologia, estuda a relação de parentesco entre os organismos e suas histórias evolutivas. Por meio da nomenclatura, ela dá nome aos indivíduos e aos grupos a que eles pertencem.

Cientistas estimam que exista hoje, no mundo, algo em torno de 1,8 milhão de espécies – das quais 80% ainda não foram mapeadas ou ainda não passaram por um trabalho de taxonomia. O problema é que 0,1% das espécies do planeta desaparecem todos os anos, principalmente por causa do desmatamento e do aquecimento global.

O agrônomo e professor de Zoologia Carlos Alberto Gonçalves da Cruz explica que a classificação dos seres vivos segue algumas normas e princípios pré-determinados. “Na Taxonomia, a nomenclatura que usamos é binomial, regida por regras internacionais”, diz.


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Com doutorado em Ciências Biológicas e ênfase em Herpetologia, área da ciência que se dedica ao estudo de répteis e anfíbios, Cruz conta que, ao descrever uma espécie nova, ele primeiramente observa se o animal possui alguma característica marcante que possa ser ressaltada no nome que será dado à espécie. O próximo passo é converter o nome para o latim ou para o grego. “As vezes você descobre uma nova espécie endêmica daquela região em que está pesquisando, então vale a pena fazer uma homenagem com o nome do lugar. Outras vezes, você prefere homenagear alguém muito importante para a realização daquele estudo”, esclarece o herpetologista.

E assim, Cruz já descreveu aproximadamente 80 espécies. Os nomes? Dos mais variados: Cynolebias izecksohni (peixe descrito em homenagem ao amigo, professor e especialista em anfíbios Eugênio Izecksohn, falecido em 2013); Proceratophrys mantiqueira (espécie de sapo endêmica da região da Serra da Mantiqueira); Aplastodiscus leucopygius (espécie de perereca com uma característica muito marcante: a região da cloaca possui uma coloração branca – leuco = branco + pygius = bunda – traduzindo: bunda branca). Em 1985, Cruz resolveu homenagear sua esposa, a Arilda, com a descrição de uma nova espécie de perereca: Hyla arildae, mais tarde reclassificada como Aplastodiscus arildae. Emocionada, Arilda brinca com nossa equipe de reportagem: “Ao contrário da Aplastodiscus arildae, eu não sou verde”, garante a homenageada.

Existem, no mundo, número próximo de 7.500 espécies já catalogadas de anfíbios (salamandras, cobras cegas, sapos, rãs e pererecas), das quais pouco mais de 1.200 estão no Brasil. A botânica Ariane Luna também recebeu homenagem semelhante no mesmo ano. Seu então marido, o também herpetologista Oswaldo Peixoto, descreveu a Hyla arianae, mais tarde rebatizada como Aplastodiscus ehrhardti. “O nome ehrardti não estava claramente associado a nenhuma das pererecas verdes, mas o exame do tipo com o que eu e meu parceiro no trabalho tínhamos chamado de Hyla arianae mostrou que eram a mesma coisa, e aí a Ariane dançou”, brinca o pesquisador. O nome mudou, “mas a homenagem está valendo”, garante Peixoto.

Ariane é professora da UFRRJ e pesquisadora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ela conta que, até o momento, são reconhecidas 46.570 espécies para a flora brasileira, sendo 4.754 de Algas, 33.155 de Angiospermas, 1.567 de Briófitas, 5.719 de Fungos, 30 de Gimnospermas e 1.345 de Samambaias e Licófitas. “Não tenho ideia de quantas espécies já descrevi nem quantas homenagens já fiz a importantes nomes, como Graziela Barroso, amiga e pesquisadora do Jardim Botânico do Rio, e Luisa Kinoshita Gouvêa, professora e pesquisadora da Unicamp. Mas ainda quero homenagear muitas pessoas”, afirma Ariane.

Também acostumado a realizar homenagens, Peixoto recentemente recebeu um agrado de um amigo e colecionador de orquídeas: ao misturar duas espécies, o orquidófilo batizou o novo híbrido como Cattleya walkeriana "Benja", em referência a Benjamin, neto de Peixoto. “Não se trata de uma espécie, mas de uma variedade selecionada que recebeu um prêmio e o dono a chamou assim. Se você mergulhar nisso, há uma tonelada de plantas e de nomes. Quem cruza orquídeas e obtém bons resultados, muitas vezes, dá um nome em homenagem a alguém”, explica o pesquisador.

Conheça outras espécies que receberam nomes de ídolos:

Considerada uma praga em algumas regiões da Austrália, a Scaptia beyonceae é uma mosca raríssima, batizada em homenagem à diva da música pop Beyoncé. O nome foi dado devido à coloração dourada de seu abdômen-inferior, que lembra uma calça usada pela cantora no clipe Bootylicious, do grupo Destiny’s Child, do qual fazia parte.

Duas novas espécies de aranha descobertas no Irã, Filistata maguirei e Pritha garfieldi, receberam seus nomes em homenagem aos atores Tobey Maguire e Andrew Garfield, que interpretaram o personagem Homem-Aranha no cinema.

Mick Jagger e Keith Richards, da banda Rolling Stones, também foram homenageados e seus nomes batizaram duas espécies de Trilobitas, animais marinhos extintos na era Paleozoica: Aegrotocatellus jaggeri e Perirehaedulus richards. Na mesma linha, o beatle John Lennon e a atriz e modelo Marilyn Monroe já haviam emprestado seus nomes a outros exemplares da espécie: Avalanchurus Lennoni e Norasaphus monroeae.

O besouro Agra schwarzeneggeri ganhou esse nome por ser, segundo o cientista que o descreveu, metido a forte como o exterminador Arnold Schwarzenegger.

Os presidentes americanos Barack Obama e George W. Bush também foram homenageados emprestando seus nomes a espécies: Aptostichus barackobamai, uma simpática aranha, e Agathidium bushi, um arrogante besouro.

Um pequeno crustáceo que pode viver em águas salgadas e doces ou ainda na terra, muito encontrado nos recifes de corais da ilha de Bawe, na Tanzânia, leste da África, foi batizado como Cirolana mercuryi. Homenagem ao tanzaniano mais famoso do mundo, o roqueiro Freddie Mercury.

E nem mesmo o guerrilheiro latino-americano Che Guevara fugiu às homenagens. Um besouro extremamente raro recebeu o nome de Cheguevaria em sua homenagem.

Inspirado no sucesso All Shook Up, de Elvis Presley, um cientista descreveu uma espécie de vespa assassina, parente das abelhas: Preseucoila imallshookupis.

Um sapo encontrado na Amazônia brasileira sérvio de homenagem ao rockeiro das trevas, Ozzy Osbourne: Dendropsophus ozzyi.

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