Historiadores afirmam que, por instituição do governador Constantino Menelau, em 1614, a primeira moeda brasileira foi o açúcar, embora por aqui já circulassem alguns exemplares da moeda portuguesa, o Real.

Criado em Portugal no século XIV, o Real logo ficou conhecido como Réis, por uma deturpação do seu plural “Reais”, termo que foi oficializado durante o reinado de Dom João IV (1640-1656). O Réis então passou a designar o padrão monetário português e, por consequência colonial, também o brasileiro, até meados do século XX.

Mas o que pouca gente sabe é que o dinheiro que vinha de Portugal para o Brasil era cunhado na Espanha, país que detinha as maiores reservas metálicas de ouro e prata vindas de suas colônias de exploração nas Américas. E aqui cabe um parêntese: durante quase meio século de dominação de Portugal pela Espanha (1580 a 1640), a moeda por aqui utilizada foi o real hispano-americano, cunhado na Bolívia.

 Moeda brasileira de 1000 reis datada de 1863, Brasil Império. Por Yaroslaff / shutterstock

Somente com a vinda da família real para o Brasil, o que causou um aumento significativo nos gastos públicos para manter todas as mordomias da realeza e, consequentemente, a falta de metal precioso para cunhar as moedas, que surgiu a necessidade da emissão de dinheiro em papel. E assim, por determinação de Dom João VI, em 1808, criou-se o Banco do Brasil.

Por causa das seguidas desvalorizações da moeda nacional, causadas principalmente pela volta da família real para Portugal limpando os cofres brasileiros, o “Réis” logo se tornou “Mil-Réis”.

A desvalorização transformou-se num mal crônico, e as crises financeiras se sucediam. A 1ª Guerra Mundial, de 1914 a 1918, e o crash da bolsa de Nova Iorque, em 1929, foram os eventos que faltavam para jogar uma pá de cal na economia brasileira e deixar o Réis com os dias contados.

Então, em 1942, durante o Estado Novo de Getulio Vargas, o Cruzeiro (Cr$) foi estabelecido como padrão monetário brasileiro, em substituição ao Real. A nova unidade correspondia a 1 mil-réis.

Por Janusz Pienkowski Cédulas antigas de Cruzeiros. Por Janusz Pienkowski

Durante o regime militar que se instalou no país de 1964 a 1985, a moeda sofreu mais algumas alterações na tentativa de conter a elevada inflação que balançava os pilares da nossa economia. Na velha política de “cortar zeros e mudar o nome da moeda”, o Cruzeiro Novo foi lançado em 1967, unidade transitória que equivalia a mil cruzeiros. A denominação durou até 1970, quando o dinheiro volta a ser apenas Cruzeiro.

Por Janusz Pienkowski / shutterstock Cédulas de Cruzeiros. Por Janusz Pienkowski

A Nova República que se estabeleceu com o término do período ditatorial herdou uma dívida externa incalculável e uma inflação galopante, o que desencadeou uma série de novos planos econômicos.

Por Janusz Pienkowski / shutterstock Cédulas de Cruzeiro. Por Janusz Pienkowski / shutterstock

O Plano Cruzado foi o primeiro deles. Criado pelo Decreto 2.283, de 27 de fevereiro de 1986, durante o governo do presidente José Sarney, o plano estabelecia a reforma monetária com a instituição do Cruzado como nova moeda, o congelamento dos preços e a instituição do gatilho salarial, acionado toda vez que a taxa de inflação atingia 20%.

Por Gabriel_Ramos / shutterstock Cédulas de Cruzados com carimbo para Cruzados Novos. Por Gabriel_Ramos / shutterstock

Em novembro do mesmo ano, Sarney lança o Plano Cruzado II, suspendendo todos os pagamentos de juros relativos a dívidas com bancos estrangeiros.

Em meio a tantas tentativas frustradas de conter a crise e trazer estabilidade à economia, o governo implantou, em 1989, o Plano Verão, que criava e instituía o Cruzado Novo (NCz$) como moeda oficial.

Por Oleg_Mit / shutterstock Cédula de Cruzados Novos com carimbo para Cruzeiros. Por Oleg_Mit / Shutterstock

Em 1990, o povo finalmente elege um presidente pelo voto direto após 26 anos de lutas e de muita espera (o que só não foi possível em 1985 pela morte de Tancredo Neves). Já no primeiro ano de mandato, o novo presidente criou o Plano Collor 1, que tinha como principal mudança a volta do Cruzeiro em substituição ao Cruzado Novo. Mas a medida mais polêmica foi o confisco dos valores superiores a 50 mil cruzados novos das cadernetas de poupança e das contas correntes pelo período de 18 meses. Qualquer valor acima desse teto era transferido ao Banco Central na data de aniversário, ou seja, quando recebiam o valor correspondente à atualização monetária e aos juros. Mas a medida elevou a inflação de 415,83% ao ano, em 1987, para 2.708,55% ao ano, em 1993.

Por Prachaya Roekdeethaweesab / shutterstock Cédula de Cruzeiro com carimbo para Cruzeiros Reais. Por Prachaya Roekdeethaweesab / shutterstock

Em 1993, com o Brasil já sob o comando do presidente Itamar Franco, a moeda foi novamente desvalorizada em três decimais, e o Cruzeiro passa a se chamar Cruzeiro Real. O plano de Itamar, que tinha Fernando Henrique Cardoso como ministro da Fazenda, se dividia em algumas fases. Em março de 1994, entra em vigor a Unidade Real de Valor (URV) como nova moeda, um indexador único da economia, que estabelecia uma proporção entre salários e preços. O valor era corrigido diariamente, até que em 1º de julho de 1994, quando a URV equivalia a 2.700 cruzeiros reais, uma nova moeda era instituída: o Real (R$).

Por Andrzej Rostek / shutterstock Cédulas de Real. Por Andrzej Rostek / shutterstock

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