Já se dá por satisfeito com aquilo que você realizou na empresa onde ainda trabalha? Ou não quer mais trabalhar de todo? Está mesmo satisfeito ou não quer mais trabalhar lá, fazendo o que sempre fez?

Se lhe oferecessem aumento de salário ou novos desafios, você mudaria de ideia? Ou está de fato decidido a partir para outra? Está saciado ou enjoou? Quer mudar de vida ou quer simplesmente parar sem nenhum plano a empreender?

Trabalho altamente burocratizado tende a gerar uma espécie de enjoo, como se comida gordurosa ou doce demais fosse. Tal como um estômago sensível, sua mente pode não aguentar mais a carga de mesmice que não lhe permite ter mais ilusões. Nem vontade de permanecer, mas trabalhando por dinheiro, enquanto a empresa quiser você por lá. Ou trabalhando por dinheiro, para dar conta de pagar as suas contas, até o prazo se esgotar.

Quando você delega a decisão de sair ou ficar à empresa, então, poderá ser tarde demais. A pessoa fica por tanto tempo parada no tempo, que a sua vontade foi à míngua. A pessoa até se esquece da força da sua vontade férrea e se contenta com o simples querer. Passa a querer tanto que a data de saída chegue e que o tempo escoe o quanto antes, que nem lembra mais o que é sonhar.

Querer é desejo fraco, não chega sequer a nos mobilizar. Sonhar é animador. Em que ponto você se encontra entre a força de só ficar querendo e a força de ir buscar? Você acredita em você ainda ou lhe basta relembrar?

A decisão de se aposentar obedece a apelos do passado e a visões de futuro. Se você acredita que os melhores anos de sua vida já ficaram longe, muito provavelmente aposentadoria para você significará ‘rescaldo’: procurar reaver uma vida que não existe mais, buscar algo que ficou perdido e, talvez, já nem lhe caiba.

Se, porém, você é movido por esperança e desejo de mudança, aposentadoria poderá significar ‘descoberta e inovação’. Não são somente objetos, ideias e serviços que se inovam. O pulo do gato é inovar-se enquanto pessoa. Desvendar as inúmeras possibilidades de ser na vida, ser algo que pouco ou nada tem a ver com o que já passou e que nem se sabe ainda o que será.

A psicologia do último século bateu na tecla de que somos quem somos e que ninguém muda. O máximo que poderíamos fazer seria mudar de atitude e de comportamentos. Falamos de ‘partes’ de nós. De ‘lados’. Falamos de ‘faces’. Mas a pessoa humana não se divide.

A pessoa humana é una: uma complexidade a se realizar, um devir surpreendente, um vir a ser atordoante, capaz de nos fazer não só enxergar o mundo de outra forma, mas tornarmo-nos alguém mais rico, acrescido de maiores possibilidades de ser si mesmo. Como se fossemos múltiplos ‘eus’ que nem se deram a conhecer ainda, porque não lhes demos oportunidades de manifestarem em nós.

É atemorizante pensarmos que, depois dos 50 anos poderemos ter outros 40! Ou 50! E se não nos inovarmos, que tédio será a nossa vida se estivermos prontos e acabados para escolher a aposentadoria para fazer nada.
Sabe qual a grande diferença entre força de vontade e força da vontade? A primeira depende de privação: faço um sacrifício para conseguir algo em troca. Privo-me disso ou daquilo, até alcançar a minha meta. E penso que me supero.

Já a força da vontade irrompe do âmago de cada um de nós. É um apelo a realizar algo de grandioso, porque brota da alma, mesmo para quem nela não acredita. É força que mobiliza através de uma disciplina que só pode sustentar aquele que se recria, além do que jamais pensou nem imaginou ser capaz.

Vamos dizer, então, que essa força da vontade brota da mais profunda sinceridade e pureza do nosso anseio: se a pessoa não dá vazão à força da sua vontade ela não dá vazão a sua expressão como pessoa una e, com isso, vive num limbo a que chamamos depressão, uma vala de projetos mortos onde pessoas não se realizam e caminham a esmo para o nada sem nem poder.

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