Há mudanças que ocorrem naturalmente e que também são desejadas. Por exemplo, aprender a falar e a caminhar nos primeiros anos da infância. Depois, ganhar um corpo de adulto enquanto a mente se abre e se torna mais complexa, ganhando novas perspectivas.

São mudanças que se impõem, porque fazem parte da nossa programação genética, além do que possamos desejar ou não desejar. Outras ocorrem em razão de mudanças de status, mudanças no estilo de vida. Algumas delas serão celebradas e outras, deploradas. Mas não se consegue deter o tempo e existe até quem afirme que tempo é uma abstração. O que existe são mudanças, perceptíveis e notáveis.

Mudanças, por mais que sejam subjetivas e de natureza íntima, são reais. Mais cedo elas haverão de se manifestar em novos comportamentos e atitudes. Algumas destas mudanças serão percebidas pelos outros. Outras somente nós próprios é que poderemos aquilatar, especialmente aquelas que se traduzem em novos quereres e pensares.

Por algum tempo elas já se processaram em nós e pensamos que se trata somente de uma fase, que não vieram para ficar. Raramente as mudanças da meia idade se mostram de pronto. As pessoas se sentem mais cansadas porém, justificam esse cansaço, essa nova morosidade com que fazemos as mesmas coisas como fruto de excesso de trabalho ou de preocupação.

O fato é que, com o avançar da idade, o nosso organismo vai desacelerando. E como estamos treinados para apreciar muito mais a rapidez do que o passo menos acelerado, começamos a achar que tem algo de errado. Insistimos em querer voltar ao padrão anterior e nos frustramos quando não conseguimos.

Nossos gostos também mudam. Para alguns, não sair para pular no Carnaval era uma tragédia. O mesmo na passagem do ano. Tinha que haver festa, barulho, comilança, algo que se pensava memorável. Passar férias em casa, descansando e fazendo coisas comuns, nem pensar! Férias e feriados eram para viajar, para escapar totalmente da rotina, mesmo que a rotina de viagem fosse sempre a mesma.

Muitas malas, muitos planos, muita gente, muito tempo de estrada, filas nos aeroportos, dólares nas mãos. Fica-se mais velho e o que acontece? A maior parte dos que se aposentam, de fato, perdem padrão aquisitivo. O dinheiro das aplicações já não se mostra tão favorecedor de extravagâncias.

Um mecanismo interessantíssimo e precioso se instala: - Se eu já não posso tanto, passo a querer menos. Assim não vou me frustrar demais por não ter. A vontade da pessoa passa a dirigir o foco para aquilo que esteja mais à mão, para um anseio realista. Isso é fenomenalmente positivo.

Não se trata de uma atitude de despeito, conforme a fábula de La Fontaine, em que a raposa, por não conseguir alcançar as doces e suculentas uvas dependuradas em cachos que despertam água na boca, dá-lhes as costas e desmerece-as estão verdes, mesmo!

Não. É uma atitude nova de grande sabedoria: apreciar o que se tem. E mais, ficar feliz porque os outros têm algo que nós sabemos ser muito bom, que também já tivemos, mas que agora não é mais para o nosso bico. É não deixar de apreciar, porém encontrar alternativas positivas para lidar com as frustrações dos nossos desejos, provavelmente já mudaram de feição, também.

Não há nada de errado em escolher mais o silêncio, o conforto, o comedimento. Isso não significa ficar velho. É se atualizar. É reconhecer que, no tempo as mudanças se instalam e escolhas são outras e que há, sim, muita diferença entre os desafios que se apresentam estimulantes para uns e outros, pois o que é bom e faz bem para crianças, para adolescentes, para adultos, pode não ser tão bom assim para adultos de mais idade.

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