O maior e mais querido cestinha do Brasil completou hoje 60 anos e concedeu uma entrevista exclusiva ao Portal do Instituto de Longevidade. No bate-papo descontraído com nosso editor, Oscar Schmidt falou sobre vida, infância e envelhecimento. Relembrou fatos marcantes de sua carreira, o susto com a doença e a batalha para a superação, sempre com muito bom humor.

Confira a entrevista com Oscar Schmidt

Instituto de Longevidade: Oscar, qual é a sua lembrança mais antiga?

Oscar Schmidt: A mais antiga? Caramba, foi a surra que eu tomei do meu pai (risos). Eu tinha uns cinco anos. Fui pegar uma cadeira para sentar, mas minha vó estava sentando. Ela caiu no chão. Aí não teve conversa, meu pai tirou o cinto e me deu uma surra que me urinei todo.

Instituto: Como foi sua infância?

OS: Foi uma infância normal demais, abençoada. Morávamos em Natal, no Rio Grande do Norte, com toda segurança. Morávamos em uma Vila Naval, com soldados passando em frente à nossa casa e a gente brincando de pipa, carrinho de rolimã... foi realmente uma infância abençoada que eu me lembro com muito carinho.

Instituto: Quando você começou a se ver como jogador? Como foi seu primeiro contato com o basquete?

OS: Meu professor de educação física era o mesmo técnico do Unidade Vizinhança, lá em Brasília. Um dia, durante uma aula, ele me disse que eu deveria ir ao clube, que eu poderia gostar de basquete. Eu não gostava de basquete, mas fui lá e me apaixonei. Ele fazia um monte de exercícios estranhos, colocava umas pedrinhas no chão para gente ir apoiando com uma das mãos e pegando a pedrinha com a outra, e as vezes colocava umas cordinhas numas cadeiras pra gente passar por cima e por baixo. O cara era um japonês, chamava-se Laurindo Miura. Uma vez ele falou para mim: “Oscar, você está vendo a cesta?”. Eu respondi que não e ele me mandou colocar a mão para cima que eu então veria a cesta e eu respondi que daquele jeito eu estava vendo. Ele mandou que eu tentasse arremessar daquele jeito e eu disse que jamais acertaria. E ele insistiu: “Começa assim que um dia você será um grande cestinha”. Foi muito legal a minha experiência de começo no basquete porque não havia nenhuma cobrança, eu ia lá só brincar. Mas me apaixonei e passei a treinar muito desde os 13 anos de idade.

Instituto: Em algum momento você pensou em ser outra coisa, que não atleta?

OS: Eu queria ser engenheiro eletrônico e estudar no ITA. Eu tinha planos grandes para mim, mas aí o basquete apareceu na minha vida e eu esqueci rapidamente do sonho de ser engenheiro eletrônico. Eu era CDF, estudava muito. Tinha boas notas, estava sempre entre os três primeiros da classe.

Instituto: Onde você estudava?

OS: No Salesiano. Havia esse ranking entre os alunos. Mas decidi me dedicar ao basquete. Com 16 anos, eu recebi um convite para vir jogar em São Paulo. Fui morar numa república de atletas onde conheci o meu melhor amigo para a vida toda, o Chicão. Minha vida foi muito abençoada. Minha esposa também conheci rapidamente e logo casei com ela.


Tenha acesso aos melhores conteúdos informativos. Clique aqui e faça parte do grupo de Whatsapp do Instituto de Longevidade!


Instituto: Foi amor à primeira vista?

OS: Casei com ela porque ela me passava bem a bola (risos). Minha gandula pra vida toda.

Instituto: Qual o seu maior ídolo hoje?

OS: Meu maior ídolo é o Ubiratã [Ubiratan Maciel (1944-2002), pivô, medalha de bronze nas Olimpíadas de Tóquio (1964) com a seleção brasileira]. Também o Larry Bird, que inclusive foi meu padrinho na entrega do prêmio no Hall da Fama do Basquete, em Springfield (EUA). Tive uma carreira espelhada em bons jogadores, onde eu treinava muito pra tentar ser melhor que eles.

Instituto: De todas as suas jogadas, alguma deles te marcou mais?

OS: Quando eu fui pra Itália, meu técnico, que era o Bogdan Tanjevic, ele me ensinou uma jogada que eu não conhecia. Uma tal de “giro dorsal”, que um jogador famoso na época, o Jack Sikma, fazia de forma muito bem feita. E ele adorava o Jack Sikma. Ele me ensinou e aquela jogada era o contrário da que eu fazia. Quando eu a fiz durante um jogo, eu olhei para o banco e ele estava dando um soco no ar, gritando “Valeu, Oscar!”. Acredito que esta tenha sido a jogada mais importante da minha carreira.

Instituto: E a saúde, como está?

OS: A saúde está boa. Estou fazendo quimioterapia uma vez por mês, ciclo de cinco dias, e não vai ser esse tumorzinho de m... que vai me derrubar. Só faltava essa! Eu nem me lamento, porque a gente foi feito pra morrer um dia, ou de acidente ou de doença. A minha vida foi muito bonita.

Instituto: Se pudesse voltar atrás, faria algo diferente?

OS: Não me arrependo de nada. Se eu pudesse fazer outra coisa, eu não faria, jogaria basquete de novo, seria o mesmo cara que eu fui a vida toda. Adorei a minha vida, adoro a minha vida. Estaria disposto a recomeçar minha carreira. É que não dá mais tempo, né? A gente vai ficando velho.

Instituto: A vida profissional de um atleta costuma ser rápida, geralmente se aposenta antes dos 40. No entanto a prática do esporte é recomendada durante toda a vida. O que você diria a uma pessoa com mais de 50 anos que deseja iniciar um esporte?

OS: Eu costumo dizer que o cara que fala que esporte faz bem pra saúde nunca fez esporte. É saudável para o atleta de fim de semana. Para o atleta profissional não tem nada de saudável. Vai machucar suas engrenagens todas. Eu todos os dias acordo com dor em algum lugar. Não tem nada der fazer bem pra saúde (risos). Eu aconselho não exagerar. Fazer uma caminhada normal, não precisa correr feito um maluco. Se puder caminhar todos os dias, será excelente para a saúde. Mas só caminhada! Se quiser correr um pouquinho, beleza. Mas sem exagero, pra poder fazer exercícios todos os dias. A vida é feita de movimento. Mas se você passa a vida toda nesse ritmo infernal, chega na velhice você não quer jogar mais. O cara veterano que continua jogando é maluco. Eu gastei minha gasolina toda. Importante é seguir o que o médico manda.

Instituto: Alguma mensagem para finalizarmos essa entrevista?

OS: Vou fechar com uma! O Papa me abençoou. Eu nunca tinha visto o Papa. Se eu não curar com ele, eu não vou curar com mais ninguém!

Compartilhe com seus amigos