A poucos meses de completar 70 anos de idade, Anair Severo Leal, instrutora de costura industrial, se diz muito mais confiante diante das agruras da vida do que alguns anos (e até décadas) atrás. Há menos temores e é mais fácil afastar a tristeza. "Não tenho medo de ficar doente, nem de acontecer coisas ruins, pois, se tiver que acontecer, acontece em qualquer lugar. Conquistei grande segurança, fui amadurecendo, e isso faz com que eu consiga resolver todos os problemas com calma", afirma.

Essa habilidade não é restrita a Anair, mas é mais comum entre pessoas que, assim como ela, têm mais de 60 anos de idade, segundo um estudo realizado por cientistas dos Estados Unidos e do Canadá, no Georgia Institute of Technology. Os especialistas descobriram evidências de que a simples expectativa de que algo ruim se aproxime é suficiente para desencadear um mecanismo de defesa e eliminar emoções negativas em quem passou da sexta década de vida. Ou seja, a capacidade de afastar o medo, o negativismo e a infelicidade é uma característica que melhora de forma considerável com a idade.

Para chegar a esse resultado, a equipe recrutou 22 adultos com idade média de 23 anos e 20 pessoas entre 60 e 70 anos. A cada participante, foram apresentados áudios e fotografias enquanto estava em um equipamento de ressonância magnética. Primeiro, ouviam sons como pneus cantando, em uma derrapagem de carro. Depois, eram exibidas imagens de cenas perturbadoras, como cirurgia sangrenta, mordidas de tubarão e ferimentos a bala, ou de itens ou situações neutras, como borboletas, máquinas de lavar roupa, flores e paisagens urbanas.

Táticas de vida

O que os cientistas mediram foi a reação imediata. Mas há quem, como Anair, também tenha suas estratégias para afastar a tristeza. "Fui amadurecendo e me distanciando das coisas que machucam. Hoje sou uma pessoa que luto pelo meu bem-estar ", frisa ela. E completa: “Para mim, não existe dificuldade. Tenho calma e controle para parar e pensar em como resolver um problema".

Olho: “Agora, tudo é sentido de forma mais leve do que antes"

Mesma opinião tem a funcionária pública Isa Francioli. Aos 68 anos, ela vive uma mudança radical – de casa, trabalho e cidade. “Agora, tudo é sentido de forma mais leve do que antes", compara. Se a mudança tivesse ocorrido aos 30, 40 ou mesmo 50 anos, Isa acredita que seu comportamento seria totalmente diferente.

"Eu teria ficado num estado de ansiedade incrível, com medo e preocupação diante de tudo, tristeza por deixar minha casa, meu local de trabalho, meus amigos. Agora, depois dos 60, não tem apego, não tem ansiedade. Quando se é jovem, todos os sentimentos são muito mais intensos e perturbadores. Agora há muita serenidade", comenta.

Conjunto de fatores

O psicólogo Yuri Busin, doutor em neurociência do comportamento e diretor do Centro de Atenção à Saúde Mental – Equilíbrio (Casme), observa que o envelhecimento traz não apenas mais experiência, mas também mais resiliência.

Nessa fase da vida, questões que pareciam o pior dos cenários em outras épocas – uma demissão ou uma decepção amorosa, por exemplo – parecem menos atemorizantes. "As pessoas já aprenderam que conseguem lidar com dificuldades de uma forma melhor. Sempre que algo ocorre pela primeira vez, parece o fim do mundo, mas quando se passa por isso algumas vezes, ao longo da vida, vai se tornando algo menor", pondera.

Não que tais problemas deixem de ser importantes. Mas a interpretação dos fatos começa a ser diferente, pois o valor sentimental agregado muda, assim como as prioridades de vida. "Essas pessoas passam a ver com perspectivas diferentes. Elas evoluem", finaliza.

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