Faça um retrospecto do último ano e tente responder: você foi vítima de violência? Possivelmente, nesse processo, a primeira reação é buscar na memória tapas, socos, pontapés e empurrões. São as formas visíveis – que deixam marcas pelo corpo. Mas e as que não produzem cicatrizes externas, como humilhações, chantagens emocionais, controle e culpabilização, a violência psicológica?

“O grande problema é o que é invisível – formas que a gente não reconhece como violência e formas sutis, que a gente fala: ‘ah, mas isso é assim’”, enfatizou Mafoane Odara, diretora do Fundo Brasil de Direitos Humanos, durante o seminário “Violência contra o Idoso: uma Violência de Gênero?”, promovido pelo Instituto de Longevidade MAG, na última quinta-feira, na USP (Universidade de São Paulo). “O maior problema é a violência psicológica.”

Agora tente responder novamente. Conhece alguém – incluindo você – que foi vítima de violência no último ano – coloque na conta insultos, humilhação, desvalorização, chantagem, ridicularização, exploração e ameaças? Não se esqueça de considerar também a violência econômica – roubo, destruição de bens pessoais e pressão para pedir empréstimo ou para dar dinheiro.

A maior parcela das pessoas que respondem sim a essa questão é mulher. São elas as grandes vítimas de violência e por um motivo: o Brasil é um país machista. Mafoane explica que, quando elas saíram do lar para ganhar espaços públicos – como o mercado de trabalho –, os homens se sentiram ameaçados. E, nesse processo, tanto eles quanto elas reproduzem comportamentos já arraigados, sem perceber que, assim, se tornam os agressores.

 “A violência física é apenas o topo do iceberg”

É essa violência invisível que, reproduzida à exaustão, leva àquelas que deixam marcas na pele e tiram vidas. “A violência física é apenas o topo do iceberg”, assinala Mafoane. “O maior problema é a violência psicológica.”

Ela exemplifica: “Quando há uma agressão física no primeiro encontro, a mulher nunca mais procura o cara. O problema é a psicológica. Mentiras ditas muitas vezes viram verdades. Uma vez aprisionada psicologicamente, quase nada tira a mulher de um relacionamento abusivo”.

Há uma maneira de começar a criar uma nova cultura, que seja menos machista e menos violenta. O primeiro passo é reconhecer o machismo. “Se a gente não consegue nem reconhecer nossas próprias atitudes, fica difícil a gente conseguir combatê-lo.”

O segundo passo é estar permanentemente atento a ele. Porque é fácil encontrar suas formas mais, digamos, clássicas. Quem não se lembra da música “Ai que Saudades da Amélia” e do refrão: “Amélia não tinha a menor vaidade / Amélia é que era mulher de verdade”? Mas, “como ele vai se refinando e ganhando nova roupagem”, esclarece Mafoane, o desafio é identificar essas formas mais recentes.

Aos homens, orienta ela, cabe alertar os demais. Estudos mostram que o que faz com que eles deixem de ter um comportamento machista é ser alertados por outro homem. “É o mais difícil e o mais transformador”, sinaliza.

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